Conciliar o serviço ferroviário de Coimbra-A com o projeto do metro-bus é possível
No final do ano passado foi aprovado o encerramento da estação central de Coimbra, uma decisão já extemporânea naquela altura e que faz cada vez menos sentido no presente. No entanto, a remoção dos carris só está apontada para 2022, o que nos dá tempo para conjugar o serviço ferroviário de Coimbra-A com o projeto do metro-bus, desde que adoptemos uma visão conciliatória.
Hoje temos números e por isso podemos atualizar o rumo desejável das políticas. Em 2018, Coimbra-A teve 113 mil passageiros por mês, enquanto Coimbra-B teve apenas 125 mil. Por outras palavras, afinal Coimbra-A teve praticamente o mesmo número de passageiros que Coimbra-B. Estes valores são muito semelhantes à tendência nacional e europeia, que demonstra que as estações que se localizam nos centros das cidades são as que têm maior movimento porque permitem aí chegar de forma direta, evitando transbordos.
Apesar de Coimbra-A ter vindo a perder uma série de ligações importantes e de não ter qualquer comboio Intercidades ou Pendular, a verdade é que quase metade das pessoas continuou a preferir apanhar o comboio nesta estação. A sua localização central, aliada ao facto de ser o terminus de quase todos os comboios regionais e urbanos, são os factores que continuam a torná-la tão concorrida e relevante para o futuro.
A coexistência dos dois meios de transporte em Coimbra-A é possível e reforça a interligação das várias redes existentes. A variante rodoviária da Av. Fernão de Magalhães já estava prevista em 2012 no plano da Área de Reabilitação Urbana desta zona. Esta via paralela ao rio pode, agora, ser utilizada em exclusivo pelo sistema de metro-bus, e tem a orientação ideal para se fazer a articulação com o serviço ferroviário e autocarros municipais (SMTUC).
Esta é a proposta mais justa do ponto de vista social para todos os utilizadores de transportes públicos: além de conjugar as várias redes existentes, promove a sua interligação neste ponto nodal. A par desta medida, o preço dos passes intermodais deve ser alargado a toda a região. Não é admissível que após quase dois anos de introdução do PART, um cidadão da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra (CIM-RC) continue a pagar 80 ou 90 euros por um passe intermodal enquanto nas Área Metropolitanas de Lisboa ou do Porto este passe tem um custo máximo de 40 euros.
É urgente que a cidade, a região e a CP encarem a Rede de Urbanos e Regionais como um todo. Se é necessário material circulante novo, então devemos perguntar já ao governo que parte dos 129 comboios novos é que a região vai ter direito. Se as frequências e tempos de viagem podem ser mais satisfatórios, então devemos perguntar já à CP se é possível fazê-lo com o material recém-renovado. Se a população não conhece os serviços regionais que dispõe, então a CIM-RC deve avançar de imediato com uma campanha de divulgação da rede existente. Talvez baste chamar-lhe metro-train para que comece a receber a atenção merecida.
Manter o serviço ferroviário de Coimbra-A em articulação com o Sistema de Mobilidade do Mondego é possível, é desejável e é a solução que melhor responde às necessidades de transporte de Coimbra e da região centro, precisamente quando ela é tão necessária ao país.
Este texto é uma versão curta de um artigo enviado para a redacção do Jornal Público a 19 de Outubro de 2020, e vem no seguimento de um outro artigo publicado a 9 de Dezembro de 2019 no mesmo jornal.
Duarte Miranda
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