CP – Comboios de Portugal: uma gestão racional?

Ago 14, 2025

Atrair passageiros para o transporte ferroviário deve ser uma constante preocupação de quem gere a CP – Comboios de Portugal. Mas será? A dúvida existe. Veja-se um exemplo.

O comboio Alfa Braga-Lisboa parte de Braga, em direção a Lisboa, com um grande número de lugares vagos até Porto-Campanhã, onde costuma encher. Ora, qual o motivo para o bilhete custar nada menos do que 17 €, no trajeto entre Braga e Porto, na classe turística, a mais barata? E por que o preço é o mesmo, viaje o passageiro a partir de Braga, Nine ou Famalicão? Note-se que este preço é quase cinco vezes superior ao preço para o mesmo trajecto nos comboios urbanos.

Qual a razão porque o preço do bilhete não é, por exemplo, de 8 €? Se assim fosse e houvesse adequada divulgação, certamente seriam atraídas para estas viagens largas dezenas de pessoas que contribuiriam para aumentar as receitas diárias da CP e diminuir os indesejáveis efeitos sobre o ambiente resultante da utilização de automóveis e autocarros.

Dir-se-á que, para estes trajetos, existem os comboios urbanos e regionais. Mas esquece-se que estes são muito mais vagarosos e, pior, frequentemente vão muito cheios, sem lugares sentados, com franca baixa de qualidade para transporte de passageiros, coisa que parece não incomodar a CP.

Parece que há aqui, afinal, uma “racionalidade” que é começar ou terminar a viagem nos comboios Alfa e Intercidades no Porto, despejando os passageiros para os comboios Urbanos e Regionais, obrigando-os, muitas vezes, a continuar viagem de pé.

Não dá para compreender. Nenhuma empresa bem gerida, procederia deste modo ou então teria razões muito fortes para assim proceder. Também não dá para compreender que, antes de enviar este artigo para publicação, tentasse contactar, sem êxito, a administração da CP. O Conselho de Administração da CP deve ter mais que fazer do que atender cidadãos, mesmo através de assessores que certamente estão ao seu serviço para verificar, como era o caso, se o que aqui se escreve está errado ou o que porventura está a ser feito para solucionar o problema.

Será que já me devo dar por contente por ter podido saber através do número da CP 808 109 110 (que tem um custo, mas mesmo assim tem frequentemente todas as linhas ocupadas e procura despachar quem contacta) que um bilhete de comboio urbano entre Braga e Porto- Campanhã custa 3,55 euros e de Famalicão para o mesmo destino 2,55 euros? Pelo mesmo número e telefonema, devidamente gravado, obtive a informação de que o Conselho de Administração da CP não aceita contactos telefónicos e nem houve tempo disponível para conhecer alternativas mais personalizadas do que os costumados formulários de sugestões ou reclamações (telefonema de 1 de Agosto de 2025, pelas 18,40h, aproximadamente).

Aliás, o que aqui fica dito tem correspondência com o sítio institucional da CP Comboios de Portugal. Ele tem uma boa apresentação, muitos conteúdos, nomeadamente históricos, mas dificilmente encontramos um espaço, pelo menos bem visível, dedicado aos cidadãos, estabelecendo a comunicação entre estes e quem gere a CP. Para a CP não há cidadãos há clientes, como em qualquer empresa privada. A administração da CP ignora que não é dona da empresa. Parece desconhecer que ela, como pública que é, tem como donos os cidadãos. Estes não são meros clientes. São pessoas que têm uma palavra a dizer sobre a gestão da sua CP e, assim, têm o direito a uma relação direta com os seus gestores de ocasião, desejando que sejam os melhores. Estes devem atendê-los, pelo menos através dos seus assessores (para a propaganda da CP, eles estão sempre prontos e isso nota-se bem na página oficial).

Acresce que, no âmbito dessa relação direta deveria ser normal que os administradores tivessem reuniões regulares com os cidadãos singulares ou em associação, não só em Lisboa como noutros pontos do país; e não seria pedir muito ter reuniões pelo menos no Porto, Coimbra e Faro. Sabemos que nós cidadãos não temos hábitos fortes de participação cívica, mas cabe a quem actua em nosso nome, como é o caso da CP, fomentar essa participação.

 

António Cândido de Oliveira

Presidente da Direção da Associação Comboios do Século XXI

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